A busca por Sofia Sentia o sangue se esvair pelos seus dedos, mas continuava correndo...
Autor: Leon Landford
Publicado em 7 de Maio de 2008
John Smith sentia o sangue se esvair pelos seus dedos, mas continuava correndo. O ar frio da manhã entrava em seus pulmões ardentes, e suas mãos tremiam pelo esforço físico. Os olhos azuis procuravam uma rota de fuga, uma esperança de sobreviver. Seu algoz estava em seu encalço, ele sabia. Moscou era gigante, mas o algoz conhecia cada beco, cada viela da cidade. John estava em desvantagem absoluta, mas não se deixou abalar. Conseguira a informação que procurava. Retirou um envelope branco manchado de sangue do bolso e o observou por alguns segundos. Era um envelope vazio, mas para ele o que mais importava era o endereço de remetente escrito a mão:
Sofia Parker Número 348 da Rua Lewis, Manhattan, Nova Iorque.
John imaginou como a menina seria nos dias de hoje. Por mais que tentasse, não conseguia associar a menina de um ano que ele guardava na memória com a jovem que ela seria hoje, com seus dezenove anos. Perdido em lembranças, deixou escapar um sorriso, embora seus lábios estivessem azuis com o frio.
- Estou indo garota. Nem que seja a última coisa que eu faça.
Guardando o envelope no bolso do casaco, John pôs-se a caminhar a passos decididos pelas ruas cobertas de gelo. Seus olhos, a pouco perdidos em lembranças, agora analisavam cada centímetro em busca de uma possível ameaça. As pessoas começavam a sair das suas casas naquele bairro residencial, e muitas se dirigiam uniformizadas para as fábricas da região, conversando animadamente. John se perguntou como as pessoas agüentavam o frio congelante, enquanto apertava ainda mais o casaco junto ao corpo. Pegou alguns Rublos do bolso acenou para um táxi.
- Táxi! - Falou em russo sofrível, mas o motorista devia ter entendido, pois o táxi parou na calçada.
Dando instruções para o taxista, John se sentou no banco de trás, e discretamente limpava as mãos do sangue já seco. O ferimento no ombro não tinha sido muito fundo, mas o frio intensificava a dor, e John mal conseguia respirar direito. A caminho do aeroporto, verificou se estava sendo seguido. A passagem de avião já estava em sua mão quando ele entrava no aeroporto, ajeitando o casaco e dirigindo-se até o guarda-volumes para passageiros. Tirou uma chave do bolso e abriu o armário, tirando uma mochila preta e jogando-a sobre o ombro. Fechou o armário novamente, deixando a chave na fechadura foi em direção ao banheiro.
Na entrada dos banheiros, John sentiu que estava sendo observado. Não com os olhos ou com a audição, mas um pressentimento, daqueles que só alguém que estava tanto tempo nesse ramo podia sentir. Era a 'Voz da Experiência'. John fechou a porta atrás de si, e lavou as mãos sujas, jogando água em seu rosto em seguida. Ele observou o rosto molhado no espelho por alguns instantes. Os cabelos curtos e escuros pingavam. O rosto olhava fixamente para o espelho como se fitasse um estranho, o que não deixava de ser verdade. Ultimamente, John perguntava à si mesmo o tempo todo quem ele era, quem ele fora e, fato inédito para ele, quem iria ser. A vida de John Smith mudara desde aquele telefonema. Ainda podia escutar as últimas palavras de Vanessa ao telefone ecoando em sua mente. Afastou os pensamentos, pois aquela não era hora para ficar remoendo coisas do passado. A pessoa que o seguia devia estar a poucos metros da entrada dos sanitários, e John preparou-se para o pior.
- Estou ficando muito velho pra isso. - Disse, caminhando para perto da porta.
De súbito, a porta abriu-se com um estrondo, e uma pistola acompanhada de uma mão e em seguida de um braço entraram por ela. John esperava por isso, e num golpe rápido derrubou a arma no chão. Um soco o atingiu na altura do peito, e em seguida um chute riscou o ar em direção ao seu rosto. John mal teve tempo de desviar, quando novo golpe tentava atingi-lo. Ele aparou o golpe e em seguida segurou o pulso do adversário, aplicando uma chave de braço. Seu adversário tentava em vão desvencilhar-se.
- Quem mandou você? Porque estão me seguindo?
- Vá para o inferno!
John apertou ainda mais o braço, a ponto de poder ouvir os ossos estalarem. O adversário gritou de dor, e num impulso, apoiou os dois pés na parede e projetou-se contra John, Jogando-o contra a pia do banheiro, que quebrou em dezenas de cacos de porcelana. John demorou alguns instantes para recobrar os sentidos, enquanto o homem avançava para a arma derrubada anteriormente.
Num impulso, John levantou-se e avançou em direção ao homem, no momento que ele se abaixava para recolher a arma. Com um chute certeiro, John atingiu a perna do homem na altura do joelho, rompendo a articulação da perna e fazendo o oponente ajoelhar-se de dor. Segurando a cabeça do homem com as mãos, John perguntou:
- Vou perguntar de novo. Quem te mandou, e por que estão atrás de mim?
O homem gemeu e pensou antes de responder. Por fim, Disse:
- Você deveria saber “John”... Que nome falso ridículo.
“John” chutou outra vez a perna do homem, que gritou de dor novamente.
- Eu quero saber, e quero saber AGORA! - John gritou impaciente. A raiva tomava conta dele. Odiava esses mercenários. Mesmo sabendo que era um deles. O telefonema mudara tudo.
- Filho da Pxxx! Eu não sei quem foi o cara, ele só me deu sua foto e onde você estaria. Ele falou que tentaria pegá-lo hoje mais cedo, mas você escapou. Então ele me mandou segui-lo. Isso é tudo que eu sei!
John analisou as palavras do homem por alguns segundos. Devia ter sido esse mesmo cara que tentar matá-lo essa manhã. O tiro tinha pegado de raspão, talvez o frio incomum tivesse prejudicado sua mira. O mesmo homem sabia que poderia errar, por isso contratara o mercenário para terminar o serviço.
- É só isso que eu sei John. - O homem gemia de dor.
Num movimento rápido, John aplicou um golpe na nuca do mercenário, fazendo com que desmaiasse. Depois, arrastou o corpo inconsciente para um dos sanitários privativos e fechou a porta. Verificou os bolsos do casaco do homem e encontrou apenas alguns Rublos e vinte notas de cem dólares, e um pente de munição para pistola. Ele não possuía identidade nem passaporte.
Pegando a arma no chão, John desmontou-a e em seguida, limpou cada peça com uma flanela que retirou do bolso. Em seguida, lavou as peças na pia e jogou-as num lixeiro próximo. Arrumou-se rapidamente e saiu do banheiro. No saguão do aeroporto, ele dirigiu-se para o portão de embarque 17 e misturou-se a multidão que se formava.
Já no avião, John retirou novamente o envelope guardado. Estava ligeiramente amassado devido ao confronto, mas as letras ainda estavam bem visíveis.
Sofia Parker Numero 348 da Rua Lewis, Manhattan, Nova Iorque.
- Senhoras e senhores, o vôo com destino a Nova Iorque sairá dentro de quinze minutos. Favor apertar os cintos e preparar-se para a decolagem. - John colocou seu cinto e recostou a cabeça na poltrona não tão macia da classe econômica.
- Estou indo garota, nem que seja a última coisa que eu faça.
Fechando os olhos, “John Smith” mergulhou num sono profundo, embalado por risinhos e choros de uma garota presente em sua memória. A garota olhava para ele, olhos azuis como os seus. Depois disso, o cansaço tomou conta do seu corpo e não pensou em mais nada.
Lá embaixo, um homem vestindo um casaco verde olhava o avião ascender pelo céu cinza de Moscou. Os olhos seguiram a aeronave até ela mergulhar nas nuvens, e suas mãos mexiam-se nervosamente nos bolsos. John Smith havia escapado, mas ele faria com que não o fizesse de novo. Nem que ele tivesse que ir a América para fazê-lo.